
Ainda triste com o que aconteceu, fui procurar algo de Martha Medeiros, que muitas vezes, coincidentemente me conforta. Achei um texto em que ela fala de um filme ( que assisti), "Nas Profundezas do Mar sem Fim", com Michelle Pfeiffer. No drama ela perde o filho num saguão de hotel. Uma busca incessante. Mas, a vida pós tragédia continua... A mãe se refaz e constrói aos poucos, o que Woopy, no papel de detetive, chama de "uma boa imitação da vida". Aqui tem trechos da coluna de Martha sobre a dor da perda...
têm vontade de dormir para sempre. Nos dias
posteriores ao fato, não encontram forças para erguer
uma xícara de café ou pentear o cabelo. Sorrir
passa a ser um ato transgressor, que gera uma culpa
imensa, pois é como se estivéssemos nos curando
do sofrimento. Passada a fase de hibernação voluntária,
porém, é isso que tem que acontecer: curar-se.
Voltar a viver. Mas como, se já não existe a alegria
original? Rastreando a alegria perdida para tentar
imitá-la."
"A vida como ela é, ou deve ser, inclui festas de
Natal, férias na praia, bate-papos informais com amigos,
comemorações de aniversário, sorrisos para fotos.
Coisas triviais que são fáceis e prazerosas para
quem tem o coração leve, mas que podem ser penosas
para quem possui recordações que não se quer,
nem se pode, abandonar. Para essas pessoas, fatiar
um peru, fazer um brinde, falar banalidades, até
mesmo um banho de mar, tudo tem que ser reaprendido,
tudo tem que voltar a ser um ato inocente. Imitar
essa inocência não é um processo fácil e tampouco
natural, mas é uma sobrevivência legítima. Mais
ainda: é um ato de generosidade, pois revela a consciência
de se continuar a pertencer a uma sociedade
e de exercer um papel importante na vida de quem
nos rodeia."
Nenhum comentário:
Postar um comentário